Lição 6: Parábolas e pronunciamentos


LIÇÕES BÍBLICAS CPAD

JOVENS


 4º Trimestre de 2025

 Título: Exortação, arrependimento e esperança — O ministério profético de Jeremias

Autor: Elias Torralbo


Comentário: Palavra Forte de Deus

 Data: 9 de novembro de 2025


TEXTO PRINCIPAL


Porque, como o cinto está ligado aos lombos do homem, assim eu liguei a mim toda a casa de Israel e toda a casa de Judá […].” (Jr 13.11).


Comentário da Palavra Forte de Deus


Este versículo é, na verdade, o coração teológico e a chave exegética da parábola do cinto. O termo “lombos” na Bíblia hebraica refere-se à cintura, à sede da força e da energia do homem, e onde os objetos de maior valor ou utilidade eram presos. Consequentemente, o ato de Deus “ligar a Si” Israel e Judá como um cinto é a mais vívida representação da intimidade eletiva e da vocação desse povo. Eles foram escolhidos não para serem marginais, mas para estarem no centro da atividade e do propósito divino: para serem “por povo, e por nome, e por louvor, e por glória” (Jr 13.11b).

Aprofundando essa ideia, o linho era um tecido puro, usado por sacerdotes e em contextos de santidade, sugerindo que o propósito original de Israel era manter-se puro e santificado para refletir a glória de Deus. No entanto, o fracasso de Israel em ouvir a Palavra e a escolha de andar atrás de outros deuses levou à perda dessa intimidade e dessa utilidade. O cinto que deveria estar preso e glorioso se tornou abandonado e apodrecido (Jr 13.7).

Assim, o Texto Principal nos ensina uma lição perene: a nossa utilidade e a nossa glória como povo de Deus estão diretamente ligadas à nossa proximidade e fidelidade a Ele. O cinto apodrecido simboliza o juízo inevitável sobre a soberba (Jr 13.9), que é a raiz da rebelião. A soberba faz o cinto afrouxar, a relação se deteriorar, e a utilidade cessar. É um alerta profundo para todos nós sobre a manutenção da pureza na aliança.


RESUMO DA LIÇÃO


Diante da difícil tarefa de transmitir a mensagem de Deus, em alguns momentos o profeta Jeremias fez uso de parábolas.


Comentário da Palavra Forte de Deus


O resumo da lição capta a essência da dificuldade da comunicação profética. Jeremias lidava com um povo que sofria de “surdez espiritual” e de “cegueira moral”. A mensagem de juízo e arrependimento, por ser severa e impopular, precisava de um recurso didático que fosse ao mesmo tempo impactante e memorável. Por isso, o profeta recorreu a elementos visuais – o cinto de linho, o jarro quebrado, os cestos de figos – para romper a barreira da indiferença.

Nesse sentido, as parábolas e os atos simbólicos servem como analogias dramáticas. O cinto de linho não era uma metáfora abstrata; era um objeto que Jeremias tirou de seu próprio corpo e depois enterrou, fazendo com que a mensagem fosse vivida antes de ser falada. Isso elevou a pregação de Jeremias de um sermão comum para um acontecimento teológico. O povo podia fechar os ouvidos, mas era difícil fechar os olhos para o drama que se desenrolava.

Portanto, o uso de parábolas por Jeremias nos reafirma que a Palavra de Deus é flexível em sua forma, mas imutável em seu conteúdo. Se o método tradicional de pregação falha, a sabedoria divina providencia recursos literários e dramáticos para garantir que a verdade, mesmo que indesejada, atinja o coração do homem. É um lembrete para nós, professores, de que devemos ser criativos e eficazes em nossa comunicação.


OBJETIVOS


DESTACAR as parábolas como recursos literários;

SABER que encontramos parábolas no Antigo Testamento;

MOSTRAR a parábola do cinto de linho e dos dois cestos de figos.


INTERAÇÃO


Professor(a), na lição deste domingo, veremos um ato simbólico de Jeremias envolvendo o cinto de linho que serviu como uma lição para o povo. Isso se encontra no capítulo 13. Alguns autores, como no Comentário Bíblico Beacon, chamam esses atos simbólicos de parábolas de fé, assim como vamos denominá-los nesta lição. No decorrer da aula, explique que Jeremias se utiliza desses atos simbólicos com o objetivo de mostrar que Israel e Judá eram como um cinto de linho usado pelo Senhor. Mas agora o povo havia se tornado inútil para Deus, e deveria ser deixado de lado, exatamente como Jeremias fez com o cinto.


ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA


Professor(a), converse com os alunos explicando que “a vida dos profetas estava longe do comum. Geralmente tinham de abandonar caminhos e modos de vida normais já que a sua existência girava quase inteiramente em torno de receber e entregar as mensagens de Deus. Eles protestavam fortemente contra a idolatria (isto é, adorar falsos deuses e outras coisas no lugar do verdadeiro Deus), a imoralidade e todo tipo de mal entre o povo de Deus. Eles também falavam contra a corrupção na vida dos reis e sacerdotes, e lutavam por mudanças positivas em Israel. A principal missão dos profetas era promover o Reino de Deus e a sua justiça (isto é, uma conduta correta e um relacionamento correto com Deus), e eles ousadamente entregavam as suas mensagens sem se importar com o risco pessoal”. (Bíblia de Estudo Pentecostal para Jovens. Rio de Janeiro: CPAD, p.933).


TEXTO BÍBLICO


Jeremias 13.1-11.


1 Assim me disse o SENHOR: Vai, e compra um cinto de linho e põe-no sobre os teus lombos, mas não o coloques na água.

2 E comprei o cinto, conforme a palavra do Senhor, e o pus sobre os meus lombos.

3 Então me veio a palavra do Senhor pela segunda vez, dizendo:

4 Toma o cinto que compraste, e que trazes sobre os teus lombos, e levanta-te; vai ao Eufrates, e esconde-o ali na fenda de uma rocha.

5 E fui, e escondi-o junto ao Eufrates, como o Senhor me havia ordenado.

6 Sucedeu, ao final de muitos dias, que me disse o Senhor: Levanta-te, vai ao Eufrates, e toma dali o cinto que te ordenei que o escondesses ali.

7 E fui ao Eufrates, e cavei, e tomei o cinto do lugar onde o havia escondido; e eis que o cinto tinha apodrecido, e para nada prestava.

8 Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:

9 Assim diz o Senhor: Do mesmo modo farei apodrecer a soberba de Judá, e a muita soberba de Jerusalém.

10 Este povo maligno, que recusa ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração, e anda após deuses alheios, para servi-los, e inclinar-se diante deles, será tal como este cinto, que para nada presta.

11 Porque, como o cinto está pegado aos lombos do homem, assim eu liguei a mim toda a casa de Israel, e toda a casa de Judá, diz o Senhor, para me serem por povo, e por nome, e por louvor, e por glória; mas não deram ouvidos.


INTRODUÇÃO


Nesta lição, veremos o cativeiro sendo representado por um cinto de linho. Veremos também a respeito da parábola dos dois cestos de figos narrada no capítulo 24 de Jeremias.


Comentário da Palavra Forte de Deus


A introdução nos oferece uma visão panorâmica da dualidade da mensagem de Jeremias: o juízo iminente e a esperança futura. O cinto de linho de Jeremias 13 é o prenúncio da destruição e do cativeiro que se abateria sobre Judá, simbolizando o estado de inutilidade espiritual do povo. O linho, em si, representava a santidade e a pureza que deveriam caracterizar o povo da aliança (Jr 13.1), mas a corrupção o levou à podridão.

Entretanto, o ministério profético nunca é apenas de condenação; ele é sempre temperado pela misericórdia. Por isso, a lição nos dirige para a parábola dos dois cestos de figos em Jeremias 24. Enquanto o cinto apodrecido representa o juízo sobre a soberba de Jerusalém e a parte do povo que seria rejeitada, os figos bons representam os exilados que seriam restaurados, e os figos maus representam aqueles que ficariam na terra e seriam totalmente destruídos.

Em suma, Jeremias, através destes símbolos visuais e narrativos, não apenas anunciava a tragédia (o cinto), mas também delineava o plano de Deus para a redenção dos remanescentes fiéis (os figos bons). Este balanço entre exortação, arrependimento e esperança é o cerne da teologia de Jeremias.


1. A PARÁBOLA COMO RECURSO LITERÁRIO


1. Uma definição. O termo “parábola” vem do grego parabole, composto de uma preposição: para, “ao lado de” e “próximo de”; ballo, “colocar”, “lançar” e “pôr”. Portanto, parábola dá a ideia de colocar uma coisa ao lado de outra para transmitir, vívida e claramente, uma verdade.

A parábola permite que uma mensagem espiritual e teológica seja transmitida de forma concreta e dramática. No Novo Testamento, as parábolas mostram a natureza, os princípios e os valores do Reino de Deus, além de ensinar o modo pelo qual o crente deve agir e reagir no mundo.


Comentário da Palavra Forte de Deus


A etimologia grega é um ponto de partida exegético crucial. Quando colocamos uma narrativa familiar (como o cinto, ou um semeador) “ao lado” de uma verdade complexa (o juízo, o Reino), criamos uma ponte cognitiva que facilita a apreensão da mensagem. O valor didático da parábola reside em sua capacidade de ancorar conceitos celestiais e teológicos na realidade terrena e cotidiana.

Além disso, a parábola atua como um mecanismo de filtro espiritual. Para o coração aberto e faminto pela verdade, a comparação é imediatamente esclarecedora; a verdade é revelada. Para o coração endurecido e indiferente, a parábola permanece uma história simples, um enigma, permitindo que a pessoa tropece em sua própria obstinação. Este aspecto da parábola — de revelar e esconder — é um testemunho da soberania de Deus na comunicação da Sua Palavra.

Portanto, ao estudarmos as parábolas, seja em Jeremias ou nos Evangelhos, não estamos apenas lendo contos. Estamos sendo convidados a participar de um exercício de discernimento espiritual. A parábola não é apenas um adorno literário; é um desafio que nos impele a ver além do óbvio, a conectar o material com o espiritual e, assim, a transformar nossa maneira de agir e reagir no mundo.


2. A interpretação de uma parábola.


As parábolas bíblicas foram contadas há muito tempo e em um contexto cultural bem diferente do que nós vivemos, e isso aumenta as dificuldades de interpretação. Mas existem caminhos para a compreensão de sua mensagem, tornando-a possível e segura. O primeiro passo é identificar se a parábola tem ou não pessoas envolvidas, qual seria este contexto, e quais as circunstâncias em que estavam para que ela fosse usada. Em segundo lugar, é preciso conhecer, minimamente, a cultura dos personagens e os elementos inseridos, identificando assim a representatividade de cada um deles.


Comentário da Palavra Forte de Deus


A hermenêutica das parábolas exige humildade e diligência. O primeiro erro que um intérprete pode cometer é o de alegorizar excessivamente, tentando encontrar um significado teológico para cada detalhe da narrativa. Embora a alegoria exista (como no cinto de linho), a regra de ouro é: as parábolas geralmente têm um ou, no máximo, dois pontos principais, e o contexto histórico e cultural é o nosso farol principal.

Consequentemente, a investigação do contexto e dos costumes é indispensável. Por exemplo, a parábola do semeador (Mt 13) exige que compreendamos o método de plantio na Palestina. A Parábola do Cinto (Jr 13) exige que saibamos o significado cultural do cinto de linho e o simbolismo geográfico de enterrá-lo junto ao Eufrates (a rota do exílio).

Sendo assim, a interpretação segura se afasta da imaginação solta e se ancora no conhecimento sóbrio. Devemos nos perguntar: O que esta narrativa significaria para o público original de Jeremias/Jesus? Somente após responder a essa pergunta, podemos aplicar a mensagem à nossa realidade, assegurando que a verdade que tiramos é a que Deus colocou lá.


3. Jesus e as parábolas.


Em seu ministério terreno, principalmente na comunicação do Evangelho do Reino, Jesus utilizou-se das parábolas (Mc 4.2). Contar parábolas foi o método mais usado pelo Mestre, reafirmando, com simplicidade e profundidade, os princípios de seu Reino: o amor, a forma de viver de seus discípulos e o alerta sobre a Sua segunda vinda e a eternidade.

Jesus contava as suas parábolas aos que se interessavam, mas aos que endureciam o coração e não buscavam compreender os seus ensinamentos, as mesmas parábolas serviam de julgamento divino. O uso das parábolas por Jesus foi algo previsto, e com o propósito de tornar claras as verdades antes ocultas.


Comentário da Palavra Forte de Deus


O uso das parábolas por Jesus é, indubitavelmente, a maior consagração deste método didático. Ele as empregou para delinear a teologia do Reino de Deus, quebrando a expectativa judaica de um Messias político imediato e, em vez disso, revelando princípios morais e espirituais (o amor, o serviço, a humildade) que regem Seu domínio na vida do crente e no mundo.

É notável que o Senhor utilizava a parábola não apenas para instruir, mas para separar. Jesus citou Isaías 6.9-10 (Mt 13.13-15) ao explicar o porquê de falar em parábolas: para que os que veem não vejam e os que ouvem não entendam. Isso não é um ato de obscuridade arbitrária, mas um juízo judicial sobre a hipocrisia e a obstinação religiosa da época, revelando o endurecimento do coração daqueles que deveriam ser os primeiros a aceitar o Reino.

Consequentemente, o Mestre cumpriu a profecia (Sl 78.2), utilizando o gênero literário para desvelar mistérios. As parábolas de Jesus nos oferecem uma janela para a eternidade e para os valores inegociáveis de Deus. Elas são, simultaneamente, o convite mais simples e o desafio mais profundo que o Evangelho pode oferecer à humanidade.


📌 Subsídio I: Parábola – O Mashal Hebraico


Parábolas. “A palavra ‘parábola’ é usada para falar de determinada forma literária que se comunica indiretamente por meio de linguagem comparativa, muitas vezes com o propósito de desafiar o ouvinte a aceitar ou rejeitar uma nova maneira de pensar sobre certo assunto. As parábolas geralmente incorporam imagens concretas e acessíveis da vida cotidiana do público e muitas vezes são concisas e pontuais, mencionando apenas os detalhes relevantes para uma comparação eficaz.

No entanto, qualquer tentativa de definir o termo ‘parábola’ de maneira clara e concisa é complicada pelo fato de que tanto a palavra hebraica (mashal) quanto a grega (parabolē), regularmente traduzidas por ‘parábola’, têm conotações muito mais amplas. Por exemplo, no AT, mashal pode designar provérbios (Pv 1.1), enigmas (Ez 17.2), declarações proféticas (Nm 23.7,18; 24.3,15,20,21,23) e ditos (1Sm 10.12).

Semelhantemente, no NT, parabolē denota provérbios (Lc 4.23), enigmas (Mc 3.23), analogias (Mc 7.17) e muito mais. Nenhuma definição abrangente de parábolas é, portanto, aceita pelos estudiosos bíblicos, e muito pouco do que é dito sobre parábolas em geral será aplicado a todas elas.” (Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.376).


II. O ANTIGO TESTAMENTO E AS PARÁBOLAS


1. Parábolas no Antigo Testamento.


O uso de parábolas não é exclusivo do Novo Testamento, é encontrado também no Antigo. Masal é o termo hebraico no Antigo Testamento, enquanto parabole é do Novo Testamento. Estes dois termos falam do ato de comparar, ou de corresponder com o ensino de algum valor espiritual. Há diferenças, inclusive estruturais, entre as parábolas do Antigo e as do Novo Testamento (1Sm 24.13; Ez 17.2; 18.2). Contudo, elas se assemelham no objetivo que é transmitir de forma clara e acessível, ensinamentos que de outra forma não seriam facilmente assimilados. Sendo assim, a parábola é um recurso literário bem presente nos escritos bíblicos, daí porque precisam ser bem compreendidas.


Comentário Palavra Forte de Deus


Embora haja diferenças estruturais — as parábolas de Jesus tendem a focar mais na dinâmica do Reino, enquanto as do Antigo Testamento frequentemente lidam com a justiça moral e social ou a relação de aliança — o objetivo final é idêntico: tornar o ensinamento divino acessível e indelével. O Mashal pode ser um provérbio, um enigma ou uma narrativa mais longa. O fato de ambos os testamentos empregarem este recurso (1 Sm 24.13; Ez 17.2; 18.2) confirma que a linguagem figurada é um veículo de eleição divina.

Portanto, a parábola não é apenas um recurso literário agradável; é uma ferramenta essencial para a Revelação Progressiva de Deus. Ela obriga o receptor a pensar, a decifrar e a aplicar a verdade à sua própria vida, transcendendo as barreiras culturais e temporais. Uma parábola bem compreendida é uma verdade espiritual que não pode ser facilmente esquecida, pois está ligada a uma imagem ou história do cotidiano.


2. As parábolas do Antigo Testamento.


Os hebreus sempre usaram histórias para transmitir valores e princípios, conforme se vê no contexto do Antigo Testamento. Estas parábolas são representações curtas e que, à semelhança de histórias longas, transmitem verdades eternas e espirituais dentro do contexto e da realidade dos ouvintes. Observe algumas parábolas no Antigo Testamento: a de Jotão, sobre as árvores que escolheram um rei (Jz 9.7-15); a de Natã ao tratar sobre o pecado de Davi (2Sm 12.1-5); a da mulher de Tecoa (2Sm 14.4-17) e a de Jeoás, rei de Israel, sobre o cedro e o espinheiro (2Rs 14.9). Além destas, há parábolas contadas por profetas, com o mesmo objetivo das demais.


Comentário Palavra Forte de Deus


Observemos os exemplos notáveis: a parábola de Jotão, sobre as árvores que escolhem um rei, é um escárnio profético contra a realeza ímpia e a usurpação de Abimeleque. A de Natã, sobre a ovelhinha roubada pelo rico, é um golpe de misericórdia e juízo que levou o Rei Davi ao arrependimento profundo. Já a parábola da mulher de Tecoa ($2\;Sm\;14.4-17$) foi um engenhoso estratagema para induzir Davi a aceitar o retorno de Absalão.

Em suma, o Mashal no Antigo Testamento é um instrumento de justiça e sabedoria. Ele não apenas ensina, mas também desarma o orgulho e a resistência do ouvinte. No caso de Natã e Davi, a parábola permitiu que Davi julgasse a si mesmo, mascarando a confrontação direta para garantir que a verdade penetrasse. Isso demonstra a profunda sabedoria de Deus ao utilizar meios que contornam a dureza do coração humano.


3. Os profetas e as parábolas.


Os profetas foram responsáveis pela exposição dos ensinamentos de Deus ao seu povo. Certamente, esta não foi uma tarefa simples e nem fácil, por isso eles eram separados, consagrados e dedicados a uma vida de comunhão com Deus. Além da relação do profeta com Deus, há também sua relação com o povo, na entrega da mensagem que deveria ser inteligível e acessível. Diante disso, estes homens escolhidos por Deus, em algum momento, usaram as parábolas para transmitir a mensagem divina.

Além de Balaão e Natã, a Bíblia registra outros profetas que falaram dos oráculos divinos por meio de parábolas, como Isaías que falou da “Parábola da Vinha Má” (Is 5.1-7) e Ezequiel, contemporâneo de Jeremias, que apresentou as seguintes parábolas: a das duas águias e da videira (Ez 17.3-10); a do leão enjaulado (19.2-9) e a da panela (24.3-5). Os profetas também falaram por parábolas ao povo.


Comentário Palavra Forte de Deus


Além das narrativas de confrontação mencionadas (Natã, Balaão), os profetas clássicos, como Isaías e Ezequiel, fizeram uso extensivo das parábolas. Por exemplo, Isaías utiliza a “Parábola da Vinha Má”como um poema de amor e lamento, onde Deus (o lavrador) investe tudo em Sua vinha (Israel), mas esta só produz uvas azedas (injustiça). O resultado é a retirada da proteção e a invasão.

Além disso, Ezequiel, contemporâneo de Jeremias no exílio, era um mestre dos símbolos dramáticos. Suas parábolas, como a das “duas águias e da videira”, a do “leão enjaulado” e a da “panela fervente”, traduziam a complexa teologia do juízo e da soberania divina em termos visuais e brutais. Elas não deixavam margem para dúvidas sobre a razão do cativeiro e a seriedade da aliança.

Dessa forma, compreendemos que o profeta era um artista da verdade divina. Ele usava o Mashal para que a Palavra de Deus ecoasse com poder e clareza no coração da nação. Esta prática reforça o valor de utilizarmos metodologias criativas e acessíveis para transmitir a Palavra aos jovens de hoje, garantindo que a mensagem seja entregue e compreendida.

Tendo explorado a origem e o uso das parábolas no Antigo Testamento, gostaria de avançar para o próximo tópico da lição ou talvez aprofundar uma das parábolas mencionadas, como a de Isaías sobre a vinha?


III. PARÁBOLAS DE JEREMIAS


1. A parábola do cinto de linho.


O capítulo 13 de Jeremias têm duas parábolas: a do cinto de linho (vv.1-11) e a do odre de vinho (vv.12-14). A semelhança entre elas é que, tanto o cinto de linho quanto os odres de vinho deveriam ser destruídos e ambas alertavam a respeito do juízo de Deus sobre Judá e Jerusalém. Seguindo a ordem divina, Jeremias comprou um cinto de linho, usando-o em sua cintura e depois o enterrou junto ao rio Eufrates (Jr 13.1-5). Depois de “muitos dias”, o profeta desenterrou o cinto que já se encontrava “apodrecido” e sem nenhuma utilidade (Jr 13.6,7). O linho era o tecido usado pelos sacerdotes, e este cinto, certamente, foi uma referência à missão de Judá em ser uma nação sacerdotal (Lv 16.4). À semelhança do cinto que perdeu o seu valor, Judá perderia o sentido de ser, caso deixasse de cumprir o seu propósito (Jr 13.7).

Assim como um cinto abraça o corpo do seu usuário, assim também Deus desejou abraçar Judá. Entretanto, Judá não permitiu e negligenciou a sua missão. O povo não se arrependeu de seus pecados e por isso teve o seu orgulho ferido pelo Senhor (Jr 13.9).


2. Os dois cestos de figos (Jr 24.1-10).


Por meio de uma visão, Jeremias recebeu a parábola de dois cestos de figos e isso se deu no período da primeira deportação, no reinado de Jeoaquim, por volta de 597 a.C. Nos dois cestos havia o mesmo tipo de fruto, sendo que em um deles havia figos bons para serem consumidos e, no outro, estavam os figos ruins, e que não serviam de alimento. Qual o valor de um figo se não serve como alimento? Conforme visto, Judá deveria servir como um sacerdote, refletindo a santidade divina e abençoando os povos (Êx 19.6; Is 27.6).

Nesta parábola fica claro que, mesmo tendo sido levado à Babilônia, os judeus da primeira deportação tinham alcançado o favor divino, provavelmente porque foram generosos com Jeremias (Jr 26; 36); já os que ficaram em Jerusalém — que foram hostis a Jeremias — seriam punidos mais tarde (Jr 24.8-10). A disciplina serve de aperfeiçoamento para alguns e de punição para outros.

O povo não aprendeu a lição e pôs a confiança em Zedequias, que por sua vez, firmou-se em seu próprio caminho e desprezou a Palavra de Deus (Jr 27).


Comentário Palavra Forte de Deus


A visão revela que Deus estava fazendo uma separação moral dentro do Seu povo. Os figos ruins eram aqueles que permaneceram em Jerusalém, liderados por Zedequias, que se recusaram a ouvir Jeremias e confiaram em sua própria força. Eles seriam punidos com a destruição final. Já os figos bons eram, surpreendentemente, aqueles que já haviam sido deportados para a Babilônia. Deus declara que eles eram o remanescente que Ele cuidaria e traria de volta, pois a disciplina serviu como um meio de purificação e arrependimento.

O que aprendemos aqui? A disciplina de Deus serve a dois propósitos distintos: para alguns, como os figos bons, o exílio serviu de aperfeiçoamento e purificação (provavelmente por terem se submetido ao profeta); para outros, como os figos ruins e os que confiaram em Zedequias, a permanência em Jerusalém se tornou punição e ruína. O julgamento de Deus não é cego; Ele enxerga a condição do coração, a despeito da localização geográfica, distinguindo entre aqueles que aceitam a correção e aqueles que persistem na rebeldia.

A parábola dos figos é um dos textos mais reconfortantes de Jeremias, pois assegura que, mesmo no meio da catástrofe nacional, Deus tem um plano redentor para o seu remanescente fiel. A diferença entre os figos não é acidental, mas uma declaração de soberania divina na execução da justiça.


3. Uma aplicação necessária.


Estas duas parábolas alertaram o povo dos dias de Jeremias e continua servindo de lição à Igreja da atualidade. Na igreja há os que cumprem a sua missão — e agradam a Deus —, mas há também aqueles que, ao contrário, desagradam ao Senhor. A Igreja deve ser o que foi chamada para ser, e fazer o que efetivamente o Senhor a mandou fazer (Mt 28.18-20).

A motivação para que a igreja cumpra o seu papel é a consciência de que ela depende de Deus em tudo, por isso deve confiar inteiramente no Senhor, afinal de contas, é Ele quem dá crescimento à sua igreja (1Co 3.6). A igreja é chamada a agradar a Deus (At 5.29), mas para isso ela deve cumprir — com fidelidade — o seu papel, ou à semelhança do cinto de linho e dos figos ruins, ela perderá a razão de ser.


Comentário Palavra Forte de Deus


A parábola do cinto de linho e dos figos ruins confronta a Igreja com a possibilidade de perder o seu propósito e, consequentemente, a sua utilidade. Se a Igreja negligencia a sua missão, se ela permite que a soberba (seja teológica, social ou cultural) apodreça o seu “linho”, e se ela deixa de refletir a santidade divina, ela corre o risco de se tornar inútil e irrelevante para Deus e para o mundo, à semelhança do cinto descartado.

A motivação para a fidelidade, no entanto, deve vir da consciência de que somos totalmente dependentes de Deus. A Igreja deve agradar a Deus acima de tudo, o que implica em cumprir, com fidelidade e humildade, o papel de embaixadora do Reino. A lição de Jeremias é, portanto, um apelo à vigilância e à fidelidade: só aqueles que permanecem úteis e fieis (como os figos bons) alcançarão a restauração e o favor de Deus.

O erro de Judá não foi apenas o ato de pecar, mas a persistente recusa em ouvir. Para a Igreja, o maior perigo é a surdez espiritual em relação à Palavra de Deus. A utilidade do corpo de Cristo hoje está condicionada à sua prontidão para ouvir, arrepender-se e obedecer.


“13.1-11 UM CINTO DE LINHO. O ato simbólico de Jeremias envolvendo o cinto de linho serviu como uma lição para o povo. Israel e Judá eram como um cinto de linho usado pelo Senhor, simbolizando o íntimo relacionamento que Ele tivera antes com eles. Agora o povo havia se tornado inútil para Deus, e deveria ser deixado de lado, exatamente como Jeremias fez com o cinto.

Durante o exílio do povo (isto é, a deportação de sua terra natal para vários lugares, por todo o Império Babilônico; veja a Introdução de Jeremias) na área do rio Eufrates, eles seriam inúteis para Deus, por causa do seu pecado. Todo o seu orgulho e honra seriam perdidos.” (Bíblia de Estudo Pentecostal para Jovens. Rio de Janeiro: CPAD, p.933).


CONCLUSÃO


As parábolas são importantes em todo o contexto bíblico, inclusive os profetas usaram deste recurso.

Nesta lição, aprendemos a respeito de duas parábolas de Jeremias: a do “cinto de linho” e a dos “dois cestos com figos”. Estas parábolas servem como um alerta para a Igreja. Recebemos do Senhor a missão de agradá-lo, confiar nEle e representá-lo entre os povos.


Comentário Palavra Forte de Deus


A conclusão da lição reitera o poder atemporal das parábolas. Elas são a prova de que a Palavra de Deus se utiliza de métodos criativos e acessíveis para cumprir Seu desígnio profético e didático. A escolha de Jeremias em utilizar objetos simples reflete a sabedoria divina que fala ao coração do homem comum.

O alerta final para a Igreja é um chamado à coerência. A nossa missão de agradar a Deus, confiar n’Ele e representá-lO é o que nos mantém na condição de “cinto de linho puro” e de “figos bons”. Se falharmos nessa tríade, cairemos na inutilidade espiritual.

Portanto, a herança profética de Jeremias nos impele à autocrítica constante. Devemos perguntar a nós mesmos, como Igreja: Estamos sendo um símbolo de glória e proximidade para Deus, ou um símbolo de soberba e inutilidade? A resposta está em quão fielmente cumprimos nossa missão.

Que esta lição nos inspire a valorizar cada recurso da Palavra, e a sermos crentes que, como os figos bons, aceitam a disciplina e persistem na obediência até o fim.

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