OS BASTIDORES DA IGREJA PRIMITIVA: DESVENDE O CONFLITO COM DIÓTREFES E SUAS LIÇÕES CRUCIAIS.
COMENTÁRIO BÍBLICO
“9 Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe.” 3 João
1. INTRODUÇÃO
João, em sua terceira epístola, direciona sua escrita à igreja, confrontando uma situação preocupante: a ascensão de Diótrefes, um indivíduo que busca primazia e rejeita a autoridade apostólica. O versículo 9 não é uma mera denúncia de um comportamento inadequado; ele revela uma dinâmica perigosa que ameaça a unidade e a missão da comunidade cristã. Assim, longe de ser um relato isolado, este versículo ressoa com profundas implicações teológicas sobre a liderança, a humildade e a importância de receber os servos de Cristo.
Para entendermos a plenitude deste versículo, vamos desdobrar cada elemento: “Tenho escrito à igreja”, “mas Diótrefes”, “que procura ter entre eles o primado”, “não nos recebe”.
Dessa forma, esta análise exegética busca expor a natureza da ambição desmedida e seu impacto destrutivo no contexto da igreja, desafiando-nos a examinar nossos próprios corações e a cultivar uma liderança servidora, fundamentada no amor e na submissão a Cristo.
2. “TENHO ESCRITO À IGREJA”: A COMUNICAÇÃO APOSTÓLICA
A frase “Tenho escrito à igreja” revela o compromisso de João em comunicar-se ativamente com a comunidade de fé. A forma verbal “escrevi” (ἔγραψα – egrapsa) indica uma ação passada e completa, sugerindo que João já havia enviado uma carta à igreja com instruções e orientações. Essa ação demonstra a responsabilidade apostólica de supervisionar e edificar a igreja através da comunicação escrita. No entanto, a eficácia dessa comunicação é frustrada pela atitude de Diótrefes.
Portanto, cada crente deve cultivar o hábito de buscar a instrução nas Escrituras e nos ensinamentos apostólicos, reconhecendo que a comunicação da verdade é essencial para o crescimento espiritual e a edificação da igreja. A abertura para receber a Palavra de Deus, mesmo quando ela confronta nossos próprios desejos, é fundamental para evitar o caminho da ambição egoísta.
Assim, líderes e membros da igreja devem valorizar a comunicação transparente e honesta, buscando ouvir e aprender uns com os outros, a fim de promover a unidade e o crescimento espiritual. Significa que os líderes devem ser proativos em comunicar a visão e os valores da igreja, enquanto os membros devem estar dispostos a receber e responder a essa comunicação de forma construtiva.
A Escritura enfatiza a importância da comunicação na igreja. Paulo exorta os crentes a “falarem a verdade em amor” (Efésios 4:15) e a “exortarem-se uns aos outros” (Hebreus 3:13). A comunicação eficaz edifica a igreja e fortalece os laços de comunhão.
A comunicação, portanto, é essencial para a saúde e o bem-estar da igreja, mas também um chamado à responsabilidade. Ao comunicarmos uns com os outros, devemos buscar a edificação mútua, evitando a fofoca, a maledicência e a contenda, e promovendo a paz e a harmonia no corpo de Cristo.
- Leia também: 3 João 8: Desvendando o Dever da Igreja
3. “MAS DIÓTREFES”: O AGENTE DE DIVISÃO
A expressão “mas Diótrefes” introduz um contraste abrupto. O nome Diótrefes (Διοτρεφής – Diotrephés) significa “sustentado por Zeus” ou “alimentado por Zeus”, o que ironicamente contrasta com sua atitude. Ele se opõe à autoridade apostólica e age de forma egoísta, priorizando seus próprios interesses em detrimento do bem-estar da igreja. Diótrefes personifica a oposição à liderança legítima e a busca por poder dentro da comunidade cristã.
Portanto, o seguidor de Cristo deve estar vigilante contra a influência de pessoas que promovem a divisão e o conflito na igreja. A oração, o discernimento e o amor fraternal são armas poderosas para identificar e resistir aos espíritos divisores, buscando sempre a unidade do corpo de Cristo.
Assim, a igreja deve estar atenta contra aqueles que buscam promover a separação e a desordem, reconhecendo que a unidade é um valor fundamental que deve ser preservado a todo custo. Significa que os líderes devem ser modelos de humildade e serviço, buscando o bem-estar da igreja acima de seus próprios interesses, e os membros devem estar dispostos a perdoar e reconciliar, a fim de manter a unidade do corpo de Cristo.
A Bíblia adverte contra a divisão e exorta à unidade. Jesus orou para que seus discípulos fossem “um” (João 17:21), Paulo exortou os crentes a “preservarem a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4:3), e Tiago adverte contra as contendas e os conflitos (Tiago 4:1-3).
A unidade, portanto, é um testemunho poderoso do amor de Cristo, e uma meta que deve ser perseguida diligentemente. Não basta evitar a divisão, é preciso trabalhar ativamente para promover a unidade, buscando a reconciliação e o perdão, e priorizando o bem-estar da igreja acima de nossos próprios interesses.
5. “QUE PROCURA TER ENTRE ELES O PRIMADO”: A AMBIÇÃO DESMEDIDA
A frase “que procura ter entre eles o primado” revela a raiz do problema: a ambição desmedida de Diótrefes. O verbo “procura” (φιλοπρωτεύω – philopróteuó) indica um desejo ardente e constante de ser o primeiro, de ter o controle e o reconhecimento. Esse desejo o leva a rejeitar a autoridade apostólica e a manipular a igreja para alcançar seus próprios objetivos. A busca por primazia é contrária ao espírito de humildade e serviço que Jesus ensinou.
Portanto, o discípulo de Jesus deve examinar seu próprio coração, buscando identificar e erradicar qualquer traço de ambição egoísta. A meditação nas Escrituras, a oração e o serviço desinteressado são antídotos eficazes contra a busca por primazia, conduzindo-nos a uma vida de humildade e submissão a Deus.
Assim, os líderes da igreja devem evitar a tentação de buscar o poder e o reconhecimento, reconhecendo que sua autoridade é derivada de Deus e que seu papel é servir ao povo de Deus com humildade e amor. Significa que os líderes devem buscar a vontade de Deus acima de seus próprios desejos, submetendo-se uns aos outros e servindo a igreja com amor e humildade.
A Escritura condena a ambição desmedida e exalta a humildade. Jesus disse: “Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo” (Mateus 20:26), Paulo exortou os crentes a “não fazerem nada por ambição egoísta ou vaidade” (Filipenses 2:3), e Pedro nos exorta a “revestirmo-nos de humildade uns para com os outros” (1 Pedro 5:5).
A humildade, portanto, é a marca distintiva de um líder cristão, e um valor que deve ser cultivado diligentemente. Não basta evitar a ambição egoísta, é preciso buscar a humildade, reconhecendo nossa dependência de Deus e servindo ao próximo com amor e alegria.
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5. “NÃO NOS RECEBE”: A REJEIÇÃO DA AUTORIDADE APOSTÓLICA
A expressão “não nos recebe” indica a recusa de Diótrefes em reconhecer e aceitar a autoridade de João e de seus representantes. O verbo “recebe” (ἐπιδέχεται – epidechetai) implica uma acolhida hospitaleira e uma submissão à autoridade apostólica. Ao rejeitar João, Diótrefes está, na verdade, rejeitando o próprio Cristo, que enviou os apóstolos como seus representantes.
Portanto, cada crente deve cultivar o hábito de honrar e respeitar a liderança espiritual estabelecida por Deus na igreja. A submissão à autoridade legítima, acompanhada de oração e apoio, é fundamental para a saúde e o crescimento da comunidade de fé. A resistência à autoridade, como demonstrada por Diótrefes, abre caminho para a desordem e o caos espiritual.
Assim, os membros da igreja devem honrar e respeitar a liderança legítima, reconhecendo que Deus estabeleceu líderes para guiar e proteger o rebanho. Significa que os membros devem orar por seus líderes, apoiá-los em seu ministério e submeter-se à sua autoridade, reconhecendo que eles são responsáveis perante Deus pela saúde e o bem-estar da igreja.
A Bíblia exorta a honrar e respeitar a liderança. Paulo disse: “Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à sua autoridade, pois eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas” (Hebreus 13:17), Jesus disse: “Quem os recebe, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mateus 10:40).
A submissão, portanto, é uma demonstração de fé e confiança em Deus, e um meio de promover a unidade e a harmonia na igreja. Não basta evitar a rebelião, é preciso buscar a submissão, honrando e respeitando a liderança legítima, reconhecendo que eles são instrumentos de Deus para nos guiar e proteger.
6. CONCLUSÃO
Em resumo, a análise teológica e exegética de 3 João 9 revela a seriedade da ambição desmedida e seu impacto destrutivo na igreja. Aprendemos que “Tenho escrito para a igreja” nos desafia a valorizar a comunicação transparente e honesta. “Mas Diótrefes” nos confronta com a necessidade de combater a divisão e o conflito. “Que procura ter entre eles o primado” nos lembra de evitar a tentação de buscar o poder e o reconhecimento. “Não nos recebe” nos exorta a honrar e respeitar a liderança legítima.
Portanto, que a Palavra de Deus transforme nossos corações, nos capacitando a resistir à ambição egoísta e a abraçar o caminho da humildade e do serviço. Que a história de Diótrefes nos sirva de alerta e que a graça de Deus nos capacite a cultivar a humildade, o serviço e a submissão, a fim de promover a unidade e o crescimento da igreja.
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