Além do Perdão: O Acolhimento Transformador em Filemom 1:17


“17 Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.” (Filemom 1:17)


1. Introdução


Em um gesto de notável audácia e profunda intimidade, o apóstolo Paulo passa do pedido sutil à exortação direta em Filemom 1:17. Ele apela à base de sua própria amizade e parceria com Filemom para motivar o acolhimento de Onésimo. A lógica de Paulo é cristalina: se a vossa parceria em Cristo é verdadeira, Filemom deve receber Onésimo da mesma forma que acolheria o próprio apóstolo.

Para desvendar a riqueza teológica e pastoral dessa passagem, vamos analisar três pontos cruciais: a condição da parceria, a identificação com o apóstolo e o imperativo do acolhimento. Nosso objetivo é demonstrar que este versículo não é apenas uma solicitação, mas um teste prático da fé e da comunhão de Filemom.

Paulo, portanto, convida Filemom a manifestar a realidade do Evangelho em sua vida. A forma como ele receberia Onésimo, o escravo fugitivo, seria um reflexo direto de sua relação com o apóstolo e com o próprio Cristo.


2. “Assim, pois, se me tens por companheiro…”: A Base da Parceria e o Vínculo Indissolúvel em Cristo


A argumentação de Paulo começa com uma condição, introduzida pela partícula grega oun (“assim, pois”) e a conjunção condicional ei (“se”). A expressão “se me tens por companheiro” (ei me echeis koinōnon) remete à palavra grega koinōnia, que significa parceria, comunhão ou participação. Paulo não está duvidando da parceria de Filemom, mas a utiliza como o fundamento lógico e moral de seu pedido.

Nesse sentido, Paulo recorda a Filemom de seu vínculo espiritual e de seu trabalho conjunto no Evangelho (conforme Filemom 1:1). A parceria deles era baseada na fé e no propósito comum de servir a Cristo. Ao evocar essa comunhão, Paulo está, sutilmente, elevando a questão de Onésimo de um problema pessoal para uma questão de fidelidade à aliança de parceria que eles compartilhavam.

As Escrituras nos ensinam que a comunhão cristã é a base para o nosso serviço e relacionamento. A nossa união com Cristo nos une uns aos outros. Paulo utiliza essa verdade para mostrar a Filemom que não há como ele se manter em comunhão com o apóstolo sem também acolher aqueles que Paulo ama e por quem se sacrifica. O vínculo com Paulo e o vínculo com Onésimo são, em última análise, interligados.


3. “…Recebe-o como a mim mesmo.”: O Imperativo do Acolhimento e a Identificação com o Enviado de Deus


A segunda parte do versículo é o cerne do pedido de Paulo. A expressão grega proslabou auton hōs eme é uma ordem direta: “recebe-o como a mim mesmo”. A palavra proslambanō tem o sentido de “acolher”, “assumir” ou “tomar para si”. Paulo não pede apenas para que Filemom perdoe Onésimo, mas que o acolha de forma total, sem reservas.

Dessa forma, o imperativo de Paulo é extraordinariamente ousado. Ele está criando uma identificação completa entre ele e Onésimo. Receber Onésimo não é apenas um ato de bondade, mas um ato de honra para com o apóstolo. A atitude de Filemom em relação a Onésimo seria um espelho de sua atitude em relação a Paulo. Este é o poder do amor cristão: ele nos faz ver o outro não apenas por quem ele é, mas por sua conexão com Cristo e com Seus servos.

Esta identificação reflete um princípio bíblico profundo. Jesus ensinou em Mateus 10:40: “Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.” Paulo está, portanto, aplicando uma lógica do Reino de Deus. O acolhimento a um irmão em necessidade, especialmente um que foi trazido por meio do ministério de um apóstolo, é um ato de acolhimento ao próprio apóstolo e, em última análise, a Cristo.


4.Conclusão


A nossa análise de Filemom 1:17 revelou a profundidade do pedido de Paulo a Filemom. O versículo nos ensina que a parceria cristã não é apenas uma formalidade, mas uma realidade que exige ações concretas de amor e acolhimento. A forma como acolhemos o próximo é um reflexo direto de nossa relação com os irmãos e com o próprio Senhor.

O apelo de Paulo a Filemom é um convite a uma fé que se manifesta em obras. O acolhimento de Onésimo não seria apenas um ato de bondade humana, mas uma demonstração visível e palpável de que a parceria de Filemom com Paulo era real e que a transformação operada pelo Evangelho em sua vida era genuína.

Este versículo nos leva a uma reflexão crucial: Como a nossa comunhão com Cristo e com os irmãos tem se manifestado no nosso dia a dia? Estamos dispostos a acolher o outro, especialmente aqueles que nos causaram algum mal, da mesma forma que acolheríamos os mensageiros de Deus?

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