A Ruptura e a Comunhão 2 João 9

A Ruptura e a Comunhão: Análise Exegética de 2 João 9
Comentário Bíblico

9 “Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.” 2 João 9


1. INTRODUÇÃO

Esse versículo, cravado no coração da breve, mas pungente, Segunda Epístola de João, funciona, acima de tudo, como um divisor de águas entre a comunhão genuína com Deus e o distanciamento causado pelo desvio doutrinário. Em um contexto onde falsos mestres minavam a fé, João busca fortalecer os crentes, incitando-os, antes de tudo, a discernir aqueles que sutilmente se afastam da verdade essencial sobre Jesus Cristo. Em outras palavras, João estabelece a fidelidade à “doutrina de Cristo” como o critério fundamental para identificar os verdadeiros crentes e distinguir a ortodoxia da heresia.

Visando uma compreensão mais completa, desmembramos a estrutura desta declaração. Primeiramente, investigo a frase “Todo aquele que prevarica“, analisando o verbo “prevaricar” e suas implicações teológicas. Em seguida, exploro a cláusula “e não persevera na doutrina de Cristo“, buscando desvendar a importância da perseverança e a natureza da “doutrina de Cristo“. Ademais, examino a afirmação “não tem a Deus”, analisando as consequências espirituais da apostasia. Finalmente, avalio a declaração “Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho“, investigando a promessa da comunhão trinitária para aqueles que permanecem fiéis.

O objetivo deste estudo é, portanto, delinear os princípios que regem a verdadeira comunhão com Deus, a fim de fortalecer a capacidade dos crentes de discernir a verdade do erro, de perseverar na fé e de experimentar a plenitude da presença divina. Assim, esta análise convida a um autoexame rigoroso, assegurando que nossas crenças estejam firmemente alicerçadas na Palavra de Deus e que nossas vidas reflitam os ensinamentos de Cristo, protegendo-nos da apostasia e habilitando-nos a desfrutar de uma comunhão íntima com o Pai e o Filho.


2. “TODO AQUELE QUE PREVARICA”: A TRANSGRESSÃO DO LIMITE DOUTRINÁRIO

A frase ” Todo aquele que prevarica “, presente em 2 João 9, ressalta, acima de tudo, a ação de transgredir os limites da doutrina estabelecida e, consequentemente, suas consequências na relação com Deus. O verbo ” prevaricar ” ( παραβαινω parabaino ) denota, então, ir além, desviar-se, ultrapassar os limites definidos pela “doutrina de Cristo”. João emprega esse termo forte para indicar que o desvio da verdade revelada é uma transgressão que põe em risco a própria comunhão com Deus.

Outrossim, as Escrituras Sagradas nos fornecem múltiplos exemplos da importância da obediência à verdade revelada, demonstrando a necessidade de cada indivíduo permanecer fiel aos ensinamentos de Cristo. O próprio Jesus advertiu sobre o perigo de seguir falsos profetas (Mateus 7:15). Paulo alertou os coríntios sobre o perigo de se desviarem da simplicidade em relação a Cristo (2 Coríntios 11:3). O livro de Apocalipse adverte sobre o perigo de adicionar ou subtrair algo da Palavra de Deus (Apocalipse 22:18-19).

Portanto, cada crente, iluminado pela verdade de 2 João 9, é chamado, antes de tudo, a um senso profundo de compromisso com a verdade e a uma vigilância constante contra as influências corruptoras. Não nos contentamos com uma fé superficial, mas sentimos a responsabilidade de conhecer a verdade e de defendê-la. É essencial que abordemos essa tarefa com oração fervorosa, buscando a direção divina em cada passo e confiando na capacidade do Espírito Santo de nos guiar em toda a verdade.


3. “E NÃO PERSEVERA NA DOUTRINA DE CRISTO”: A NECESSIDADE DA CONSTÂNCIA NA VERDADE

A cláusula “e não persevera na doutrina de Cristo“, presente em 2 João 9, enfatiza, por outro lado, a necessidade de permanecer firme nos ensinamentos apostólicos para manter a comunhão com Deus. A “doutrina de Cristo” refere-se, primariamente, ao conjunto de ensinamentos transmitidos por Jesus e pelos apóstolos, que incluem a sua identidade divina, a sua encarnação, a sua morte expiatória, a sua ressurreição e a sua ascensão. Abrange, portanto, a totalidade da revelação divina que encontramos nas Escrituras.

Paulo exorta Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16) . O autor de Hebreus adverte: “Retenhamos firmemente a confissão da nossa esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” (Hebreus 10:23) . Tiago nos lembra que a perseverança é a prova da genuinidade da fé (Tiago 1:2-4).

À vista da advertência expressa em 2 João 9, é imperativo que cada seguidor de Cristo cultive a perseverança, capaz de resistir às tentações e de permanecer fiel à verdade. Buscamos incessantemente o conhecimento da Palavra de Deus, a fim de não sermos levados por ventos de doutrina (Efésios 4:14). Sob a iluminação do Espírito Santo, discernimos a verdade e resistimos às investidas do mal. Confrontamos o pecado, quando necessário, com humildade, reconhecendo a própria falibilidade e buscando a restauração.


4. “NÃO TEM A DEUS”: A PERDA DA COMUNHÃO COM A DIVINDADE

A afirmação “não tem a Deus” expressa, inequivocamente, a consequência terrível da apostasia: a perda da comunhão com o próprio Deus. O verbo “ter” indica, primariamente, posse, relacionamento íntimo, comunhão. João declara, portanto, que aqueles que se desviam da doutrina de Cristo perdem o relacionamento íntimo com Deus, a comunhão com o Pai e o Filho.

Paulo, em sua carta aos Romanos, descreve a condição daqueles que rejeitam a Deus: “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis, e o coração insensato deles obscureceu-se…trocando a verdade de Deus pela mentira, e adorando e servindo a criatura em lugar do Criador” (Romanos 1:21,25). O próprio Jesus alertou sobre o perigo de ser rejeitado por Ele no dia do juízo (Mateus 7:21-23).

Diante da possibilidade de perder a comunhão com Deus, não nos contentamos com uma postura passiva, mas nos sentimos compelidos a agir proativamente na defesa da verdade. Isso implica buscar incessantemente oportunidades para compartilhar o Evangelho autêntico e expor as falsidades dos ensinamentos desviantes. É crucial abordarmos essa tarefa com um profundo senso de urgência, reconhecendo o perigo eterno que espreita aqueles que são enganados. Guiados pelo Espírito Santo, buscamos agir com sabedoria e eficácia, visando sempre glorificar a Deus e proclamar a vida eterna.


5. “ESSE TEM TANTO AO PAI COMO AO FILHO”: A PROMESSA DA COMUNHÃO TRINITÁRIA

A expressão ” Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho ” enfatiza, por fim, a bênção da comunhão com a Trindade para aqueles que permanecem fiéis à verdade. A palavra ” ter ” indica similarmente posse, relacionamento íntimo, comunhão. João afirma, por conseguinte, que aqueles que perseveram na doutrina de Cristo desfrutam de um relacionamento íntimo com o Pai e o Filho, experimentam a plenitude da presença divina.

A Bíblia nos ensina que Deus habita naqueles que O amam e obedecem (João 14:23). Jesus prometeu: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (João 14:23). Paulo nos lembra que somos templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19).

À luz da promessa expressa em 2 João 9, não nos contentamos com uma fé superficial, mas buscamos um relacionamento íntimo com Deus e uma vida de obediência aos Seus mandamentos. Isso implica renunciar ao pecado, buscar a santidade e praticar a justiça em todas as áreas de nossas vidas. É crucial abordarmos essa tarefa com humildade e sinceridade, reconhecendo a nossa dependência da graça de Deus e buscando a Sua ajuda para vencermos as tentações e permanecermos fiéis até o fim.


6. CONCLUSÃO

Em suma, a análise teológica e exegética de 2 João 9 revela a importância fundamental da fidelidade à doutrina de Cristo como condição essencial para a comunhão com Deus. A prevaricação, a perda da comunhão, a apostasia e a promessa da comunhão com a Trindade são, portanto, os temas centrais que emergem deste versículo.

Portanto, que a mensagem transformadora deste versículo inspire cada crente a um autoexame contínuo, a um compromisso inabalável com a verdade e a uma busca diligente pela santidade, permitindo que o Espírito Santo o guie e o capacite a cumprir o propósito de Deus e a desfrutar da plenitude da comunhão com o Pai e o Filho.

1 comentário em “A Ruptura e a Comunhão 2 João 9”

  1. Pingback: Um Alerta Contra Falsos Mestres - Palavra Forte de Deus

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima