A Condenação pela Omissão Obadias 1.11


“No dia em que o confrontaste, no dia em que estranhos levaram cativo o seu exército, e os estrangeiros entravam pelas suas portas, e lançaram sortes sobre Jerusalém, tu eras também como um deles.” (Obadias 1:11)


1. Introdução


A profecia de Obadias continua a detalhar a acusação formal de Deus contra Edom. O versículo 11 não aponta para um ato de agressão direta, mas condena a nação de Esaú por sua cumplicidade e indiferença no momento mais crucial da história de Judá: a invasão babilônica e a queda de Jerusalém. O trecho “tu eras também como um deles” funciona como a sentença definitiva que expõe a traição fraternal.

Esta declaração estabelece um princípio ético-teológico fundamental: a omissão e a indiferença no sofrimento do próximo constituem um pecado de mesma gravidade que a agressão ativa. Edom, irmão de Judá, permaneceu à margem, regime de sua calamidade, e sua atitude equipara-o aos invasores estrangeiros. O silêncio e a inércia denunciam a hostilidade do seu coração.

A análise exegética deste trecho permite-nos compreender a profundidade da acusação divina. Para tal, abordamos as seguintes unidades textuais: “No dia em que o confrontaste” (o momento da traição), “estranhos levaram cativo o seu exército” (a fragilidade da defesa de Judá), “estrangeiros entravam pelas suas portas” (o colapso da segurança) e “lançaram sortes sobre Jerusalém, tu eras também como um deles” (a consumação da cumplicidade).


2. “No dia em que o confrontaste”


A expressão “No dia em que o confrontaste” descreve a posição de Edom durante o saque de Jerusalém. A palavra sugere que Edom manteve uma postura de observação indiferente ou hostil à distância. Portanto, o pecado não se limitou à agressão, mas sim à escolha de permanecer parado enquanto o parente enfrentava a destruição.

A escolha de confrontar Judá simboliza a hostilidade fraternal que caracterizava Edom. Eles abandonaram a aliança de parentesco em um momento de extrema vulnerabilidade. Consequentemente, a posição de Edom revela que a indiferença é uma forma de ataque, pois reforça a fragilidade da vítima e encoraja o opressor.

O Antigo Testamento exige a solidariedade e a defesa dos necessitados. O livro de Provérbios 24:11-12 adverte: “Livra os que estão sendo levados para a morte, e salva os que cambaleiam para a matança. Se disseres: Eis que não o soubemos, porventura não o considerará aquele que pesa os corações?” Dessa forma, a Escritura condena a omissão baseada na alegação de ignorância.

O indivíduo crente deve assumir uma postura ativa de solidariedade e defesa em relação aos vulneráveis e oprimidos, evitando a neutralidade cúmplice. Assim, o discípulo de Cristo demonstra seu amor prático, transformando a fé em ação concreta e responsável pelo próximo.


3. “estranhos levaram cativo o seu exército”


A expressão “estranhos levaram cativo o seu exército” descreve a profundidade da derrota militar de Judá. O termo “estranhos” refere-se aos babilônios, que subjugaram e aprisionaram os militares de Judá. Portanto, o texto evidencia o colapso da capacidade de defesa de Jerusalém, expondo sua impotência aos olhos de Edom.

A visão da captura do exército serviu para alimentar a arrogância edomita, que viam a queda de Judá como a confirmação de sua própria superioridade. A observação do aprisionamento dos guerreiros revela a oportunidade que Edom enxergou para realizar sua vingança antiga contra o irmão.

O livro de Lamentações descreve o horror deste cenário: “Os seus príncipes se tornaram como cervos que não acham pasto e caminham sem força diante do perseguidor.” (Lamentações 1:6). Sendo assim, a quebra da resistência de Judá é o pano de fundo necessário para compreendermos a gravidade da traição de Edom.

O compromisso do fiel deve ser com a restauração e o apoio àqueles que caíram, jamais tirando vantagem de sua vulnerabilidade ou derrota. Acreditamos que a fragilidade humana requer misericórdia e assistência, e não exploração ou escárnio por parte de outros membros da aliança.


4. “e os estrangeiros entravam pelas suas portas”


A expressão “e os estrangeiros entravam pelas suas portas” simboliza o colapso final da segurança de Jerusalém, quando os invasores romperam as defesas da cidade. As portas representavam a última linha de resistência e defesa. Portanto, a entrada dos estranhos significa a profanação do espaço sagrado e a tomada completa.

A visão dos opressores adentrando o santuário deveria ter gerado luto e indignação em Edom, mas produziu regime. A quebra das portas revelou que nenhuma fortaleza pode subsistir contra a sentença de Deus. A indiferença de Edom demonstra a falência da ética fraterna.

O Salmo 89:40-41 descreve a violência deste evento: “Quebraste todos os seus muros, reduziste a ruínas as suas fortalezas. Roubam-no todos os que passam pelo caminho; ele se tornou opróbrio para os seus vizinhos.” Dessa forma, a entrada dos estranhos marca o ponto de não-retorno na desolação da cidade.

A responsabilidade do crente é ser um guardião da ética e da moralidade, evitando permitir que influências nocivas adentrem o coração e o lar. Assim, o fiel deve ser vigilante, combatendo ativamente tudo o que ameaça a santidade e a integridade da comunidade de fé.


5. “e lançaram sortes sobre Jerusalém”


A expressão “e lançaram sortes sobre Jerusalém” descreve a humilhação máxima da cidade, quando os babilônios decidiram a partilha dos despojos e dos cativos. O lançamento de sortes simboliza a total desumanização e a transformação da população em propriedade a ser distribuída. Portanto, o destino dos sobreviventes estava à mercê do acaso.

O ato de lançar sortes reduz o valor da vida e da dignidade a um jogo cruel. A observação deste ato por Edom revela a ausência de qualquer resquício de compaixão pelo sofrimento de Judá. Consequentemente, a cumplicidade é plena, pois eles aceitaram a legitimidade do saque.

O profeta Joel utiliza a mesma imagem para condenar os inimigos de Israel: “E lançaram sortes sobre o meu povo, e deram meninos por meretriz, e venderam meninas por vinho, para beberem.” (Joel 3:3). Sendo assim, o lançamento de sortes é a prova da extrema violência e da falta de valor atribuído aos cativos.

O compromisso do crente deve ser com o respeito incondicional à dignidade de cada pessoa, combatendo a coisificação e a exploração do próximo. Assim, o fiel honra a imagem de Deus no ser humano, recusando a visão do mundo que reduz a vida a um instrumento de ganho ou poder.


6. “tu eras também como um deles”


A conclusão da acusação chega à sentença final: “tu eras também como um deles.” O verbo ser no pretérito estabelece a equiparidade moral de Edom com os agressores estrangeiros. Significa que a indiferença é equivalente à agressão e cumpre o mesmo propósito perverso.

Além disso, a frase demonstra que a falta de ação coloca o observador no mesmo nível do executor do mal. Portanto, Edom não pode alegar neutralidade, pois sua omissão serviu ao plano de destruição. Dessa forma, a cumplicidade reforça o princípio de responsabilidade coletiva.

Assim, o apóstolo Paulo adverte sobre a participação na iniquidade: “Não vos associeis com os que se ajuntam para fazer o mal, nem andeis com quem vos induz a fazer o que não é justo.” (Provérbios 1:15, na tradução bíblica de referência). Dessa forma, a Escritura alerta que a associação com o pecado torna o indivíduo cúmplice da transgressão.

Portanto, o discípulo de Cristo deve buscar a santidade e a integridade em todos os relacionamentos, evitando a cumplicidade com o pecado e a injustiça do mundo. Assim, a vida do crente deve ser uma demonstração ativa de retidão, recusando a equiparidade moral com aqueles que praticam o mal.


7. Conclusão


Nesta aula, extraímos lições cruciais sobre a natureza da justiça divina e a cumplicidade da indiferença. A expressão “No dia em que o confrontaste” lembra-nos que a omissão no sofrimento do irmão constitui uma posição hostil, condenada por Deus. Em contrapartida, a sequência “estranhos levaram cativo o seu exército, e os estrangeiros entravam pelas suas portas” esclarece que a falência da segurança de Judá expôs a oportunidade que Edom aproveitou para trair, revelando a natureza perversa da hostilidade fraternal.

Por fim, a sentença “lançaram sortes sobre Jerusalém, tu eras também como um deles” demonstra que a indiferença equipara o observador ao agressor, afirmando a responsabilidade moral pela iniquidade. Assim, num mundo assinalado pela tentação de cuidar apenas dos próprios interesses, a convicção no rigor da justiça de Deus, na santidade da ação ativa e na obrigação da solidariedade robustece a ética cristã, glorifica o caráter de Deus e revigora o compromisso com a compaixão inegociável.

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