O DESAFIO À MISSÃO CONTEMPORÂNEA 3 JOÃO 1.7
“7 Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios.” 3 João 1.7
1. INTRODUÇÃO
O versículo 7 da terceira epístola de João, situado em um contexto de preocupação com a hospitalidade e a fidelidade no serviço cristão, irradia uma luz intensa sobre a essência da missão. Longe de ser uma mera nota de rodapé histórica, esse versículo ressoa com implicações teológicas profundas sobre a motivação, a dependência e a pureza no ministério.
Para compreendermos a plenitude deste versículo, devemos desdobrar cada elemento: “Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios.” Mergulharemos no significado do “porque”, exploraremos a profundidade do “pelo seu Nome”, analisaremos as implicações da “saída”, desvendaremos as razões para “nada” tomar e, por fim, discerniremos o significado do “dos gentios”.
Esta análise exegética busca revelar a radicalidade da teologia missionária primitiva, desafiando-nos a confrontar nossos próprios paradigmas de serviço cristão. Como crentes, somos chamados a imitar a devoção e o compromisso desses primeiros missionários, permitindo que suas vidas inspirem uma entrega mais completa ao serviço de Deus.
2. PORQUE”: A MOTIVAÇÃO FUNDAMENTAL
A palavra “porque” nos ajuda a entender o que realmente motivava os missionários. A viagem deles não foi por acaso, mas sim baseada em uma forte fé e em princípios bíblicos. Esse “porque” mostra que a motivação é essencial para qualquer trabalho cristão verdadeiro, pois define se ele é sincero e qual o seu objetivo final.
Cada cristão deve, portanto, examinar seu coração, questionando o que impulsiona suas ações e se busca a glória de Deus ou a aprovação dos homens. A resposta a essas perguntas moldará a eficácia e o impacto de seu testemunho, determinando se seu serviço é aceitável a Deus e edificante para o próximo.
A Escritura está repleta de exemplos que ilustram a importância da motivação correta. No Antigo Testamento, vemos a história de Davi, cujo coração era reto diante de Deus, mesmo em meio a falhas e pecados (1 Samuel 13:14). No Novo Testamento, Jesus confrontava as motivações erradas dos fariseus (Mateus 6:1-6), e a história de Ananias e Safira (Atos 5:1-11) serve como um lembrete solene.
A motivação pura, portanto, é essencial para um serviço que agrada a Deus. A busca pela glória divina e pelo bem-estar do próximo deve ser o farol que guia todas as nossas ações, assegurando que nosso ministério seja uma expressão genuína do amor de Cristo.
3.”PELO SEU NOME”: AUTORIDADE E IDENTIDADE
A expressão “pelo seu Nome” é muito mais do que uma formalidade. Ela representa tudo o que Jesus Cristo é: quem Ele é, como Ele age, o poder que Ele tem e a forma como é visto. Saírem “pelo seu Nome” significava agir sob a autoridade delegada de Cristo, buscando glorificá-Lo em tudo o que faziam e identificando-se completamente com Sua missão redentora. Esta não era uma aventura pessoal, mas uma extensão do ministério do próprio Cristo, operada através de Seus servos escolhidos.
Portanto, o seguidor de Cristo é chamado a viver em total submissão ao senhorio de Cristo, permitindo que Seu nome seja glorificado em todas as áreas de sua vida. Significa que nossas palavras, ações e atitudes devem refletir o caráter de Cristo, demonstrando ao mundo o Seu amor, a Sua graça e a Sua verdade.
A Bíblia demonstra o poder e a autoridade investidos no Nome de Jesus. No Antigo Testamento, o Nome de Deus era reverenciado (Êxodo 20:7; Levítico 24:16). No Novo Testamento, Jesus conferiu poder aos discípulos (Marcos 16:17-18), Pedro declarou que não há salvação em outro nome (Atos 4:12), e o próprio Jesus afirmou Sua autoridade (Mateus 28:18).
O viver “pelo seu Nome“, portanto, é um chamado constante para reconhecermos a autoridade de Cristo em nossas vidas, submetendo-nos a Sua vontade e permitindo que Ele nos use para cumprir Seus propósitos na Terra. É uma vida de entrega e consagração, onde o nome de Jesus é exaltado acima de tudo.
4. “SAÍRAM”: RENÚNCIA E OBEDIÊNCIA
O verbo “saíram” nos faz pensar em movimento, mas significa muito mais do que apenas ir de um lugar para outro. Implica uma renúncia, um rompimento com o status quo, um abandono das seguranças terrenas em prol de um chamado superior. Esses missionários não apenas deixaram seus lares e seus empregos, mas também renunciaram a seus próprios desejos e ambições, submetendo-se à vontade de Deus e embarcando em uma jornada de obediência e sacrifício.
Assim, o discípulo de Jesus é, portanto, chamado a renunciar ao egoísmo e à busca por seus próprios interesses, colocando os propósitos de Deus acima de tudo. Significa que devemos estar dispostos a abrir mão de nossos planos e sonhos, confiando na direção de Deus e seguindo o Seu chamado, mesmo que isso nos leve a lugares desconfortáveis ou desafiadores.
A história bíblica ecoa esse tema de renúncia e obediência. Abraão deixou sua terra natal (Gênesis 12:1-4), Moisés renunciou ao Egito (Hebreus 11:24-26), Jesus se tornou servo (Filipenses 2:5-8), e os apóstolos deixaram suas redes (Mateus 4:18-22).
A renúncia e a obediência, portanto, são marcas distintivas de um discípulo de Cristo. É uma vida de entrega total a Deus, onde Seus propósitos se tornam nossos propósitos, e Sua vontade se torna nossa alegria.
5. “NADA”: PUREZA E DEPENDÊNCIA
A palavra “nada” (grego: mēden) ressoa com uma intensidade surpreendente. Ela sinaliza uma renúncia completa a qualquer forma de compensação ou retribuição material por parte dos gentios. Essa recusa não era motivada por orgulho ou desprezo, mas sim por um desejo de manter a pureza do ministério e demonstrar uma dependência total da provisão divina.
Ao não receberem nada dos gentios, os missionários evitavam qualquer aparência de ganância ou interesse próprio, assegurando que sua mensagem fosse recebida como um dom de amor genuíno. Desse modo, o crente é, portanto, chamado a servir com um coração desinteressado, buscando a glória de Deus e o bem-estar do próximo, e não a recompensa pessoal. Significa que devemos confiar na provisão de Deus em todas as áreas de nossa vida, reconhecendo que Ele é a fonte de toda bênção e que Ele suprirá todas as nossas necessidades.
A Escritura ensina sobre a importância da dependência de Deus. No Antigo Testamento, Deus providenciou maná (Êxodo 16:1-36) e sustentou Elias (1 Reis 17:1-16). Jesus ensinou sobre a provisão divina (Mateus 6:25-34), e Paulo aprendeu a viver contente (Filipenses 4:11-13).
A pureza e a dependência, portanto, são características essenciais de um serviço que agrada a Deus. Ao renunciarmos à busca por recompensas terrenas e confiarmos em Sua provisão, demonstramos que nossa fé está firmada em Deus e que nosso coração está voltado para o Seu reino.
6. “DOS GENTIOS”: O ALVO DO EVANGELHO
A expressão “dos gentios” nos mostra que o Evangelho é para todas as pessoas, em todos os lugares. Os gentios, representando todas as nações e povos fora da aliança judaica, eram o alvo da missão desses primeiros cristãos. Ao levar a mensagem de Cristo aos gentios, os missionários estavam cumprindo o mandamento de Jesus de fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:19), demonstrando que o amor de Deus não conhece fronteiras nem aceita distinções.
Assim, aquele que segue a Cristo é, portanto, chamado a amar e servir a todos, independentemente de sua origem, raça, cultura ou condição social, compartilhando o Evangelho com ousadia e compaixão. Significa que devemos estar dispostos a sair de nossa zona de conforto e alcançar aqueles que estão longe de Deus, levando-lhes a mensagem de esperança e salvação.
O Antigo Testamento prenuncia a inclusão dos gentios (Isaías 49:6; Jonas 3:1-10). Jesus quebrou barreiras culturais (João 4:1-42; Mateus 8:5-13), e Paulo foi chamado para ser apóstolo dos gentios (Gálatas 2:7-9).
A missão aos gentios, portanto, é um chamado para abraçarmos o coração de Deus por todas as nações. Ao amarmos e servirmos a todos, demonstramos o amor incondicional de Deus e convidamos outros a experimentar a vida abundante que só Ele pode oferecer.
7. CONCLUSÃO
Em resumo, a análise teológica e exegética de 3 João 7 revela a profundidade da missão cristã primitiva. Aprendemos que a expressão “Porque pelo seu Nome saíram” nos desafia a examinar nossas próprias motivações no serviço cristão, assegurando que estejamos buscando a glória de Cristo acima de tudo e agindo sob Sua autoridade.
A atitude de “nada tomando dos gentios” nos confronta com a necessidade de manter a pureza de nossas intenções, evitando qualquer aparência de ganância ou interesse próprio, e dependendo inteiramente da provisão divina.
E, ao considerarmos o alcance universal do Evangelho, expresso na frase “dos gentios”, somos lembrados da nossa responsabilidade de levar a mensagem de Cristo a todas as nações, sem distinção de raça, cultura ou condição social, demonstrando o amor incondicional de Deus por toda a humanidade. Que a vida desses missionários nos inspire.
- Deixe seu comentário abaixo, compartilhando suas reflexões e insights sobre 3João 1:7.
- Compartilhe este artigo com seus amigos e familiares, para que mais pessoas possam ser edificadas pela Palavra de Deus.
- Leia a Epístola de 3 João e reflita sobre suas mensagens, buscando aplicar seus ensinamentos em sua vida diária.
- Leia também: 3 Joao 1.6 Aprenda a honrar a Deus apoiando seus mensageiros
Pingback: 3 João 8: Desvendando o Dever da Igreja - Palavra Forte de Deus