“Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi; eu o pagarei, para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves.” (Filemom 1:19)
1. Introdução
Em sua carta a Filemom, o apóstolo Paulo vai além de uma simples oferta de ajuda. Após propor que a dívida de Onésimo seja colocada em sua conta, ele sela seu compromisso com uma garantia pessoal: “Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi; eu o pagarei.” Esta declaração não é apenas uma promessa, mas a prova de que a oferta é real e vinculativa. A atitude de Paulo neste versículo revela seu profundo amor e sua determinação em agir como um fiador, um intercessor ativo entre Onésimo e Filemom.
Ao assumir a responsabilidade pela dívida, Paulo demonstra que a reconciliação e o perdão exigem ações concretas. Ele se coloca como mediador, honrando a justiça enquanto promove a graça. O apóstolo sabia que o perdão genuíno não ignora o dano, mas o confronta de forma a restaurar o relacionamento, e essa restauração implica um preço a ser pago.
Para desvendar a riqueza desta passagem, examinaremos a natureza da garantia de Paulo, a seriedade de sua promessa de pagamento e a sutil lembrança da dívida de Filemom para com o apóstolo. O objetivo desta análise é demonstrar que este versículo é uma manifestação do Evangelho, que transcende as convenções sociais e econômicas.
2. “Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi” – A Garantia Pessoal
A frase “Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi” é crucial. Na época, os autores costumavam ditar suas cartas a um escrivão. A caligrafia de Paulo aqui atesta a autenticidade e a seriedade de sua promessa. Ao colocar sua própria mão na escrita, ele se responsabiliza pessoalmente pelo que está prometendo, dando sua palavra de uma forma segura e inegável.
A atitude de Paulo reflete a seriedade do compromisso de Deus conosco. Deus não apenas falou sobre nossa salvação; Ele a garantiu com o sacrifício de seu próprio Filho. Assim como a caligrafia de Paulo atestou seu compromisso, a cruz de Cristo é a prova definitiva de que a dívida do nosso pecado foi paga de forma irrevogável e completa.
O apóstolo, ao assinar a promessa com sua própria caligrafia, nos ensina sobre a responsabilidade do compromisso. Ele se torna um exemplo vivo do que é necessário para a reconciliação. Ele não se esconde por trás de palavras genéricas, mas coloca sua honra e seu nome em jogo, mostrando que a fé exige atitudes concretas e corajosas.
Essa garantia pessoal de Paulo é a base para o apelo que se segue. Ele não está pedindo a Filemom que confie em uma promessa vazia, mas em uma promessa comprovada por sua assinatura. Essa atitude de Paulo nos inspira a agir com integridade e a assumir a responsabilidade por nossas palavras, seguindo o exemplo de Cristo, que sempre cumpre suas promessas.
3. “Eu o pagarei” – O Compromisso Assumido
A expressão “eu o pagarei” é a manifestação direta e incondicional do que Paulo se comprometeu a fazer. A palavra grega apotiso significa “pagar de volta, reembolsar”. A promessa de Paulo é prática e financeira; ele cobrirá os prejuízos de Onésimo de forma integral, não apenas de maneira simbólica. Ele não diz “Eu tentarei pagar”, mas sim, “Eu o pagarei”, demonstrando um compromisso total com a causa da reconciliação.
Essa atitude de Paulo é um modelo para nós. Assim como ele pagou uma dívida que não era sua, somos chamados a viver uma vida de serviço e sacrifício uns pelos outros. O amor de Cristo nos impulsiona a agir de forma prática, arcando com os custos para ajudar, perdoar e restaurar aqueles que nos ofenderam. O perdão genuíno muitas vezes envolve um custo, seja financeiro, emocional ou social.
A promessa de pagamento de Paulo é um exemplo da substituição vicária de Cristo. Como Cristo se colocou em nosso lugar, pagando a dívida de pecado que não era Sua, Paulo se coloca no lugar de Onésimo, para pagar a dívida que ele devia. Essa atitude mostra que a graça é manifestada quando alguém se dispõe a pagar o preço do perdão, em favor do devedor.
Nesse sentido, o compromisso de Paulo também demonstra a seriedade com que a graça opera. A graça não ignora o dano, mas o trata de uma forma redentora. Assim, o apóstolo, ao se oferecer para pagar, valida a dor de Filemom e, ao mesmo tempo, abre a porta para a reconciliação, mostrando que a ofensa não será ignorada, mas será paga por alguém que se importa com a restauração de ambos.
4. “Para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves” – A Dívida Esquecida
Esta parte da frase é o apogeu do argumento de Paulo. Ele afirma que está pagando a dívida de Onésimo para não precisar dizer a Filemom que ele, o próprio Filemom, também tem uma grande dívida para com Paulo. Essa dívida é a sua conversão, pois Paulo foi o instrumento que Deus usou para levá-lo à fé em Cristo.
De maneira sutil, Paulo faz Filemom se lembrar de sua própria redenção. Se ele, que já havia sido perdoado de uma dívida espiritual incalculável, não deveria hesitar em perdoar uma dívida material muito menor. A atitude de Paulo nos ensina que a graça recebida deve gerar graça distribuída. Assim, o apelo de Paulo é um convite à reflexão: se fomos perdoados por uma dívida que não podíamos pagar, como podemos reter o perdão daqueles que nos ofenderam?
Em última análise, o que Onésimo não podia pagar, Paulo se ofereceu para pagar, e o que nós não podíamos pagar, Cristo já pagou. Desse modo, o apelo de Paulo a Filemom continua a nos desafiar hoje. Ele nos lembra que a nossa fé não é passiva e que a responsabilidade de ser um fiador é maior entre aqueles que entendem o preço pago pela sua própria redenção.
5. Conclusão.
Nesta análise, extraímos valiosas lições de Filemom 1:19, um versículo que reflete a teologia da graça e da substituição. A garantia pessoal de Paulo, expressa em sua própria caligrafia, demonstra a seriedade de seu compromisso em honrar o perdão de forma prática. Assim, ele não apenas sugeriu, mas se responsabilizou por um débito que não era seu.
Assim, a atitude de Paulo, ao se colocar como fiador de Onésimo, nos lembra da obra de Cristo na cruz. Ele se tornou o nosso fiador e pagou a nossa dívida. Dessa forma, essa atitude de Paulo não é apenas um gesto de caridade, mas uma demonstração prática do Evangelho. É a graça em ação, subvertendo a lógica da dívida e do castigo.
Portanto, o apelo de Paulo a Filemom continua a nos desafiar hoje. Ele nos lembra que nossa fé não é passiva e que a responsabilidade de ser um fiador é maior entre aqueles que entendem o preço pago pela sua própria redenção. Dessa forma, o que Onésimo não podia pagar, Paulo se ofereceu para pagar, e o que nós não podíamos pagar, Cristo já pagou.
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