3 JOÃO 8: DESVENDANDO O DEVER DA IGREJA EM APOIAR OS COOPERADORES DA VERDADE
“8 Portanto, aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade.” 3 João 8
1. INTRODUÇÃO
O versículo 8 da Terceira Epístola de João, situado em um contexto de preocupação com a hospitalidade e a fidelidade no serviço cristão, irradia uma luz intensa sobre a essência da missão. Longe de ser uma mera nota de rodapé histórica, esse versículo ressoa com implicações teológicas profundas sobre a motivação, a dependência e a pureza no ministério.
Assim, para compreendermos a riqueza deste versículo, é necessário desmembrá-lo em suas partes constituintes: “Portanto,” “aos tais devemos receber,” “para que sejamos cooperadores” e “da verdade”. Dessa forma, esta análise exegética visa desenterrar as camadas de significado presentes neste texto, revelando como a recepção de missionários e pregadores do Evangelho é fundamental para a expansão do Reino de Deus e como esse ato nos torna participantes ativos na obra da Verdade.
2. “PORTANTO”: A LÓGICA DA RESPONSABILIDADE
A conjunção “Portanto” (grego: oun) serve como uma ponte lógica, conectando o versículo 8 ao contexto precedente, particularmente à descrição dos missionários itinerantes que “pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios” (3 João 7). Este “portanto” implica que, em virtude do compromisso abnegado e da dependência divina demonstrada por esses missionários, a igreja tem uma responsabilidade inerente de recebê-los e apoiá-los. Não se trata de uma mera sugestão ou opção, mas de um imperativo moral e espiritual. Teologicamente, esse “portanto” nos lembra que a fé cristã não é passiva, mas exige uma resposta ativa ao Evangelho. Portanto, cada cristão deve examinar sua própria atitude em relação ao apoio àqueles que se dedicam ao ministério em tempo integral.
Estamos conscientes das necessidades dos missionários e líderes que trabalham para o Reino? Buscamos maneiras práticas de contribuir para o sustento e o bem-estar daqueles que se sacrificam pelo Evangelho? A nossa resposta a estas perguntas revelará a profundidade do nosso compromisso com a causa de Cristo. A Escritura nos dá exemplos de como essa responsabilidade foi vivida: as mulheres que serviam a Jesus com seus bens (Lucas 8:1-3), a igreja de Filipos que apoiava o ministério de Paulo (Filipenses 4:15-18), e o próprio Jesus que dependia da provisão de outros (Mateus 8:20).
Desse modo, o seguidor de Cristo é chamado a reconhecer a sua responsabilidade em apoiar aqueles que se dedicam ao ministério do Evangelho, demonstrando gratidão e generosidade para com aqueles que se sacrificam para levar a mensagem de salvação a outros. Significa que devemos estar dispostos a investir nossos recursos, tempo e talentos no avanço do Reino de Deus, reconhecendo que somos mordomos dos dons que Ele nos confiou.
3. “AOS TAIS DEVEMOS RECEBER”: O DEVER DA HOSPITALIDADE CRISTÃ
A expressão “aos tais devemos receber” enfatiza a natureza obrigatória da hospitalidade cristã. O verbo “receber” (em grego hypolambanein) carrega a ideia de acolher com apreço, oferecer suporte e considerar alguém digno de honra. João não está meramente falando de abrir a porta para um estranho, mas de integrar ativamente esses missionários à vida da igreja, suprindo suas necessidades e valorizando sua dedicação ao Evangelho. A hospitalidade, neste contexto, transcende a mera cortesia social. Ela se torna um ato de serviço a Cristo, uma vez que esses missionários representam o próprio Senhor e são Seus embaixadores (2 Coríntios 5:20). Nesse sentido, o ato de receber “aos tais” reflete o coração generoso de Deus, que acolhe a todos em Seu reino, e demonstra a unidade do Corpo de Cristo, onde os membros se apoiam mutuamente em sua jornada de fé e serviço.
Por conseguinte, o seguidor de Cristo é chamado a cultivar um coração hospitaleiro, buscando oportunidades para acolher e abençoar aqueles que se dedicam ao serviço do Reino. Isso pode envolver abrir nossa casa, compartilhar refeições, oferecer apoio financeiro ou simplesmente demonstrar apreço e reconhecimento pelo trabalho árduo dos missionários e líderes cristãos. A Bíblia nos oferece exemplos inspiradores de hospitalidade: Abraão recebendo os três anjos (Gênesis 18:1-15), Lidia insistindo para que Paulo e seus companheiros ficassem em sua casa (Atos 16:14-15), e o próprio Jesus que elogiou a viúva que deu tudo o que tinha (Marcos 12:41-44).
Assim, o discípulo de Cristo é chamado a imitar o exemplo de Jesus, que não tinha onde reclinar a cabeça (Mateus 8:20), abrindo seu coração e seu lar para aqueles que se dedicam ao serviço do Reino, oferecendo-lhes um lugar de descanso, encorajamento e comunhão. Significa que devemos estar dispostos a sacrificar nosso tempo, conforto e recursos para abençoar aqueles que se dedicam a levar o Evangelho a outros.
4. “PARA QUE SEJAMOS COOPERADORES”: PARCERIA NA MISSÃO
A cláusula “para que sejamos cooperadores” revela o propósito último da hospitalidade: tornar-se parceiros na propagação da verdade. A palavra “cooperadores” (em grego synergos) implica uma colaboração ativa e conjunta em uma causa comum. Ao receber e apoiar esses missionários, os membros da igreja se tornam participantes ativos na obra do Evangelho, mesmo que não estejam pregando ou ensinando diretamente. De fato, essa parceria ressalta a natureza corporativa da missão cristã. O Evangelho não é propagado apenas por indivíduos isolados, mas por uma comunidade de crentes que trabalham juntos em harmonia, cada um contribuindo com seus dons e recursos para o avanço do Reino de Deus. Logo, a hospitalidade, portanto, não é um ato passivo, mas uma forma vital de participação na obra redentora de Cristo.
Dessa forma, aquele que segue a Cristo é chamado a se envolver ativamente na missão da igreja, utilizando seus dons e talentos para apoiar e fortalecer o trabalho dos missionários e líderes cristãos. Podemos orar por eles, divulgar suas necessidades, participar de eventos de arrecadação de fundos ou oferecer nosso tempo e habilidades para auxiliar em seus projetos. A Bíblia nos mostra exemplos de cooperação na missão: Paulo e Barnabé trabalhando juntos (Atos 13:1-3), Áquila e Priscila ensinando Apolo (Atos 18:24-28), e as muitas mulheres que apoiavam o ministério de Jesus (Lucas 8:1-3).
Por isso, o seguidor de Cristo é chamado a reconhecer que a missão de Deus é uma tarefa coletiva, na qual cada membro do Corpo de Cristo tem um papel a desempenhar, e a se unir a outros crentes em parceria para levar o Evangelho a todas as nações, utilizando seus dons e talentos para edificar a igreja e glorificar o nome de Deus. Significa que devemos estar dispostos a trabalhar em equipe, valorizando a diversidade de dons e talentos dentro da igreja, e a nos submeter à liderança do Espírito Santo para cumprir o propósito de Deus em nossa geração.
5. “DA VERDADE”: O FOCO NO EVANGELHO
A expressão “da verdade” direciona o foco para o conteúdo da mensagem que esses missionários proclamam: a verdade do Evangelho de Jesus Cristo. A palavra “verdade” (alētheia) se refere à revelação divina, à realidade objetiva de Deus e Seus propósitos redentores. O objetivo final de toda hospitalidade e cooperação é a propagação dessa verdade transformadora. Por conseguinte, essa ênfase na verdade nos lembra que a missão cristã não é apenas uma questão de ação social ou filantropia, mas de proclamação da Palavra de Deus. O acolhimento de missionários e pregadores deve estar sempre subordinado ao compromisso com a fidelidade doutrinária e à defesa da verdade do Evangelho contra o erro e a heresia.
Assim sendo, o discípulo de Jesus é convocado a permanecer firme na verdade do Evangelho, defendendo-a com ousadia e discernimento em um mundo cada vez mais relativista e confuso. Devemos estudar as Escrituras diligentemente, buscar o conhecimento teológico sólido e estar dispostos a confrontar o erro e a heresia com amor e firmeza. A Bíblia nos adverte contra os falsos profetas (Mateus 7:15-20), nos exorta a examinar todas as coisas (1 Tessalonicenses 5:21) e nos incentiva a permanecer na doutrina dos apóstolos (Atos 2:42).
Dessa maneira, o crente em Cristo é chamado a ser um defensor da verdade do Evangelho, proclamando-a com ousadia e clareza em um mundo que rejeita a autoridade das Escrituras e relativiza a verdade. Significa que devemos estar dispostos a defender a fé cristã, mesmo diante da oposição e da perseguição, confiando no poder do Espírito Santo para convencer e transformar corações.
6. CONCLUSÃO
Em resumo, a análise teológica e exegética de 3 João 8 revela a profundidade do chamado à hospitalidade e à parceria na missão cristã. Aprendemos que a exortação ” aos tais devemos receber ” nos desafia a examinar nossa própria disposição em acolher e apoiar aqueles que se dedicam ao serviço do Evangelho, reconhecendo a importância vital do seu trabalho para a expansão do Reino de Deus.
O chamado para sermos “cooperadores da verdade” nos confronta com a necessidade de nos envolvermos ativamente na missão da igreja, utilizando nossos dons e talentos para apoiar e fortalecer o trabalho dos missionários e líderes cristãos, demonstrando o amor e a graça de Cristo a todos os povos.
E, ao considerarmos o foco na “verdade” do Evangelho, somos lembrados da nossa responsabilidade de permanecer firmes na Palavra de Deus, defendendo-a com ousadia e discernimento em um mundo que rejeita a autoridade das Escrituras, proclamando a mensagem transformadora de Jesus Cristo com clareza e convicção.
Que o exemplo de hospitalidade e parceria demonstrado por João e seus companheiros nos inspire a viver de forma generosa e comprometida com a missão de Deus em nosso tempo.
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